No capítulo 26 do livro Boa Nova do Espírito Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier, o autor espiritual nos traz valiosas reflexões sobre o episódio no qual Pedro negou Jesus por três vezes.

Embora tenha sido avisado pelo Mestre, o Apóstolo dedicado afirmou que jamais o faria, e perguntou a Jesus se Ele o achava mau ou endurecido a tal ponto. Jesus disse que não o achava mau ou ingrato, mas o alertou que naquela noite ele compreenderia que o homem é mais frágil do que perverso.

Após a prisão de Jesus e todos os acontecimentos que se sucederam, inclusive a negação de Pedro, o ditoso Apóstolo contemplou o olhar sereno de Jesus na prisão e entrou em um choro profundo de remorso. Relembrou toda sua vida… como era ríspido e como condenava e julgava os que se se transviavam no caminho. O quanto era crítico e severo. Uma nova visão da vida surgiu em seu interior. Desejou ardentemente se ajoelhar perante o Mestre e lhe pedir perdão. Naquele momento se lembrou do valioso ensinamento: “Pedro, o homem do mundo é mais frágil do que perverso”. (Mais tarde quando Jesus na forma perispiritual se apresentou a Pedro e o orientou para conduzir os Seus seguidores, Pedro pôde pedir perdão ao Mestre).

Todos nós somos mais frágeis do que maus. Tenhamos isso em mente sempre que estivermos em contato com nossos irmãos de caminhada. Somos muito rápidos em julgar e condenar, mas lentos ainda em ponderar, praticar a empatia e servir sem críticas ou julgamentos. Todos buscamos nosso aperfeiçoamento moral e para tanto é preciso que encaremos de frente a nossa realidade íntima. Todos temos ainda presentes em nós, o bem e a ausência do bem, o claro e o escuro, virtudes e defeitos.

Dominados ainda pelo orgulho e pelo egoísmo teimamos e relutamos em olhar e aceitar esse lado sombra, que faz parte de nossa essência. Ao não aceitá-lo, o projetamos no próximo que segue sua jornada ao nosso lado, seja um membro da família, do meio profissional, social ou religioso. Costuma-se dizer que o que nos irrita no próximo está ainda presente em nós e isso é uma realidade.

Podemos enxergar isso de bom grado, praticando a auto análise como nos recomenda Santo Agostinha em “O Livro dos Espíritos”. Esse é um caminho. Ou a vida. Aa nossa existência material se encarrega de nos proporcionar o afloramento desse lado através de uma doença, uma perda ou um trauma. Pedro passou por um trauma de ver o Mestre preso sem nada que O condenasse agravado pela negação que ele fez, mesmo após 3 anos de convivência com Aquele que é Luz do Mundo.

O que será necessário para nós, para que tenhamos esse despertamento? Por que esperar uma prova ou situação traumática para que possamos trabalhar esse lado, se já sabemos que o temos, sabemos o que nos aflige e temos tantos exemplos dentro dessa Doutrina maravilhosa nos mostrando exatamente, como proceder para trabalharmos essas questões?

Quando Jesus se referiu a fragilidade humana estava justamente se referindo a esse lado sombra, os defeitos que ainda trazemos em nós, assoberbados pelo egoísmo e pelo orgulho que nos fazem a agir como não desejamos e não queremos.

Antes de julgarmos ou criticarmos nossos irmãos, os governantes, nossos familiares, pratiquemos a empatia. Nos coloquemos no lugar deles e vejamos se, na condição deles, com o conhecimento que eles tem, não faríamos o mesmo e até pior. Quantas faltas já não cometemos em vidas passadas ou nessa vida mesmo, apesar de tantos avisos e orientações? É muito fácil enxergarmos o cisco no olho de nosso irmão, mas enxergar o argueiro em nosso próprio olho ainda nos é tarefa muito difícil. Me recordo agora de André Luiz em Nosso Lar, ao constatar que de fato era um suicida, chorou copiosamente e o Espírito de Clarêncio o consolou dizendo: “[..]André nós outros também já cometemos poucas e boas […]”.

Todos estamos no mesmo barco, espíritos em evolução, um não é melhor do que o outro, todos estão apenas em patamares evolutivos diferentes. Há um tempo de despertar previsto para cada um de nós. Costumamos ouvir também que muito será cobrado a quem muito for dado. Recebemos o conhecimento, as oportunidades de renovação. Temos todas as condições de realizar nossa transformação interior, basta para isso querermos. Força de vontade, persistência e muito amor a si mesmo e ao próximo. Para Chico, Emmanuel recomendou a disciplina, pois o amor já era abundante nele. Nós ainda precisamos de muito mais. Se Chico se achava um cisco perante Jesus, costumo dizer que nós somos um cisco perante o Chico (pelo menos no que se refere a mim mesmo).

E aquela cobrança a que nos referimos no início deste trecho não será feita por Deus, por Jesus, pelo nosso Mentor. Será feita por nós mesmos, após constarmos lá no plano espiritual após o desencarne dessa existência material, o quanto poderíamos ter feito face ao que fizemos de fato.

Novamente lembrando Chico Xavier, ele mesmo dizia que o maior arrependimento que ele poderia ter era constatar, no plano espiritual, que ele poderia ter feito mais do que fez. E basta um breve olhar para a obra desse querido irmão para termos uma noção ao que ele se referiu.

Para concluirmos: “Perante os equívocos alheios, não vista a toga de severíssimo juiz. Apresente-se antes como um irmão compreensivo e generoso, a fim de também merecer tratamento generoso, quando errar”.

Sérgio R O Araujo é voluntário na ABC Espírita Batuira e no Grupo da Prece Chico Xavier em Sorocaba, SP.

Referências:

Os Prazeres da Alma, Autoconhecimento, do Espírito Hammed, por Francisco do Espírito Santo Neto;

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec;

Nosso Lar, do Espírito André Luiz por Francisco Cândido Xavier;

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