As bênçãos do trabalho
Muito curiosa a observação que Jesus nos faz em Seu Evangelho, quando informa: – O meu Pai até hoje trabalha, e eu também trabalho.
Soa estranha a afirmação, por parecer que Ele condena o repouso, quando o Velho Testamento se refere que, após criar o mundo, Deus descansou.
Nenhuma incoerência, no entanto, nos dois conceitos de aparentes conteúdos divergentes.
O trabalho é o recurso valioso que promove o progresso, sem o qual, a estagnação a tudo destruiria. E o repouso constitui mudança de atitude orgânica, a fim de restaurar as forças para a continuidade da ação.
Há, no entanto, muitas pessoas que, levando as palavras ao pé da letra, entregam-se ao trabalho até a exaustão, enquanto outras, a pretexto de repouso, vivem na ociosidade dourada, gastando as excelentes oportunidades da existência, da saúde e da inteligência na inutilidade, deixando-se arrastar pela improdutividade e passando a sofrer as consequências inevitáveis da preguiça.
O corpo humano está constituído de elementos que necessitam de movimento, a fim de bem atenderem as necessidades para as quais foram construídos.
O dinamismo, através da movimentação bem utilizada, fortalece-o, opera bem-estar e faculta dilatação de tempo para o seu uso.
Narra-se que um homem, após a morte, despertou numa região pacífica, predispondo ao repouso incessante. No princípio, pareceu ser a região celeste, com pouco tempo, no entanto, cansou de tanto ócio e começou a passar mal. Resolveu então buscar o encarregado do local para transferir-se, sugerindo: – Desejo sair daqui do Céu e passar uma temporada no Inferno.
Surpreso, o administrador respondeu-lhe, interrogando-o: – E você pensa que está em que lugar?
O trabalho é tão importante na vida das criaturas, que passou a ser terapêutico, dando sentido e significado durante a existência.
Especialmente o trabalho transcende do valor convencional quando objetiva servir ao próximo, através dos incontáveis mecanismos da sociedade, desenvolvendo a solidariedade entre todos.
O eminente educador suíço Johann Pestalozzi havia elegido como essencial para o êxito do seu programa educativo a trilogia: Trabalho, Solidariedade e Perseverança. Posteriormente, seu discípulo Allan Kardec, ao Codificar o Espiritismo, modificou um pouco a tríade, informando que para a concretização de qualquer ideal, são indispensáveis o Trabalho, a Solidariedade e a Tolerância.
O trabalho e uma lei universal, graças à qual a vida se engrandece cada vez mais.
Em uma bela metáfora, podemos dizer que tudo resulta do esforço, do trabalho bem direcionando em favor da ordem, do crescimento, da ética e da estética, mediante os quais mais se avança na conquista da beleza, da harmonia, da perfeição.
Quando, por exemplo, estejas cansado de qualquer trabalho, muda de atividade e prossegue no labor edificante, renovando as energias e o entusiasmo pela vida.
Trabalha de acordo com as tuas forças e torna-te membro da sinfonia universal.
Ao observarmos o trabalho incessante da abelha, o pensamento científico chegou à conclusão que sem ela a vida não existiria. Essas infatigáveis trabalhadoras são exemplos de que o trabalho é bênção concedida por Deus para a glória da vida.
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, 5 de março de 2020.