As desculpas nossas de cada dia

Por Sérgio Araújo

No Livro Palavras de Vida Eterna[1] (Emmanuel/Chico Xavier) a lição 128 nos traz o título: Desculpismo. Emmanuel inicia o texto com uma passagem do Evangelho de Lucas, capítulo 14, versículo 18: “E todos a uma vez começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: comprei um campo e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado”. Jesus

Escusar-se significa: dispensar de serviço ou obrigação; evitar; isentar; recusar-se. [2]

No texto Emmanuel nos relata sobre as desculpas apresentadas por irmãos que escorregaram pela delinquência ou que arruinaram o corpo em hábitos viciosos, sempre buscando uma justificativa para o que fizeram. Ele nos chama a atenção para a seguinte observação: “E, ainda agora, quando a Doutrina Espírita revive o Evangelho, concitando os homens à construção do bem na Terra, surgem às pencas desculpas disfarçando deserções:

– Estou muito jovem ainda…

– Sou velho demais…

– Assumi compromissos de monta e não posso atender…[…] [1]

Hoje, as desculpas vão surgindo no meio dos que dizem serem os ”trabalhadores da última hora”.

Essa belíssima lição me fez refletir nos momentos em que fui chamado para determinada tarefa na Seara Espírita e aleguei alguma desculpa para escusar-me. Claro que existem situações em que realmente é inviável. Contudo, será que, inconscientemente, muitas vezes agimos dessa maneira sem dar-nos conta da oportunidade que nos escapa das mãos?

Sabemos que usamos apenas cerca de 5% do cérebro e que 95% representam o subconsciente ou inconsciente. Nesses 95% estão as crenças limitantes, os medos, os anseios, as tendências inferiores, que além de serem alimentados nessa existência, nos acompanham de outras eras desde quando ingressamos no reino hominal.

É muito cômodo recebermos um convite para uma palestra, uma aula, um curso ou seminário e, caso não haja nenhum impedimento real, criarmos desculpas para escusarmo-nos dele.

Atingir o equilíbrio entre a vida social, profissional, familiar e espiritual é a meta de todos. Dar conta de tudo que há a ser feito com harmonia. Por que na maioria das vezes, nós vivemos em desarmonia, em desequilíbrio e, buscamos constantemente esse equilíbrio?

Vivemos em um planeta de provas e expiações, somos Espíritos imperfeitos, em evolução e a grande maioria de nós está aqui para o resgate, para a expiação.

Claro que nessa condição, assumimos missões a nível macro e micro que irão proporcionar justamente a evolução tão almejada. Na família consanguínea estão nossos maiores resgates ou desafetos, contudo estamos inseridos em uma grande família espiritual e muitas vezes encontramos outros desafios no trabalho, no meio social e até no meio religioso.

Diante do convite do Mestre em função de todo contexto no qual estamos inseridos é comum nos escusarmos de algo por conta do que trazemos dentro de nós. Ouvimos ou falamos algumas expressões clássicas:

  • Você vai de novo para o Centro, para a Igreja!!! Não sabe que a caridade começa em casa?
  • Melhor você trabalhar mais do que ficar se dedicando a Jesus.
  • Seguir Jesus não deixará ninguém rico. Ser Espírita, ser caridoso e benevolente é ser pobre. Tempo é dinheiro.
  • Olha a chuva que está lá fora, olha o frio que está fazendo, você vai ao Centro mesmo?
  • Não vou assumir isso porque estou ficando muito cansado devido ao trabalho.
  • Estou cheio de coisas para fazer. Não tenho tempo. Tenho muitas atividades.

E podemos enumerar uma série de justificativas, de escusas e o que mais pesa é que sempre achamos que estamos certos. Que nos escusamos e está tudo certo.

Refletindo um pouco, lá atrás quando ingressamos na Doutrina Espírita tivemos orientadores, facilitadores, palestrantes que prepararam nosso caminho nessa jornada de luz. Recebemos tanto que fomos motivados a nos esforçarmos em busca do conhecimento, da vivência dos ensinamentos do Mestre… Fizemos brilhar nossa luz, por menor que seja a chama interior de cada um. Recebemos, fomos ajudados. Como retribuímos tudo o que recebemos? Como estamos utilizando os ensinamentos de Jesus?

É possível que o modo como cada um de nós aborda determinado assunto ou faça uma explanação sobre ele proporcione mudanças na vida de alguém a ponto de evitar que o mesmo cometa um ato impensado como o suicídio ou o caminho das drogas e dos vícios. E quando nos escusamos desse compromisso essa oportunidade será perdida.

Não estou aqui dizendo que devemos assumir tudo e nos esquecermos de ou não priorizarmos nossas outras realidades. A fé cega não produz bons frutos. É necessário avaliarmos nossa vida e decidirmos o que é melhor, dia após a dia. Eventualmente preterimos uma tarefa em relação a outra, mas, observem, geralmente a maioria de nossas escusas se refere a uma tarefa na Casa Espírita. Atendemos a família, atendemos o trabalho material, o meio social e se temos que optar por deixar de fazer algo, em grande parte, recai sobre a atividade religiosa seja em que religião for.

A reflexão fica para cada um de nós que estamos vivenciando uma existência material mais uma vez. Sabemos que não somos daqui que é apenas uma passagem em nossa jornada evolutiva. Que possamos avaliar o que de fato é importante para nós, o quanto estamos seguindo nosso coração ou o que dizem para nós fazermos. Do mesmo modo que necessitamos do repouso no mundo espiritual aqui também se faz mais necessário pois o corpo material é uma máquina que necessita do lazer, do descanso para seguir com as tarefas que competem ao Espírito encarnado.

De fato, estamos retribuindo tudo o que recebemos ao longo de anos de estudo e aprendizado? Quando recebemos um convite para uma palestra, para uma aula é Ele, o Mestre, que está nos convidando, como fez com os Apóstolos, com Paulo de Tarso e tantos outros. Hoje o Cristo não nos pede para abandonarmos nossas vidas e O seguirmos, muito pelo contrário, Ele deseja que O exemplifiquemos na nossa realidade. O meio religioso é uma benção de oportunidades para, também servirmos a Deus. E como reagimos diante desse Divino convite? Disse-lhe Jesus: “Segue-me Tu. E ele se levantou e seguiu o Mestre”.

Quando nos escusamos de um convite para servir ao Mestre estamos privando-nos também do aprendizado, da lição. Doamos e recebemos na mesma medida. Do mesmo modo que ensinamos, aprendemos e é colocando em prática tudo o que recebemos que fará com que nossa fé seja do tamanho de um grão de mostarda; que nossa autoconfiança seja a mesma confiança que temos em Deus, em Jesus e em nossos amigos espirituais. Para terminar cito o último parágrafo da lição do livro mencionado acima:

“Tantas são as evasivas e tão veementes aparecem que os ouvintes mais argutos terminam convencidos de que se encontram à frente de grandes sofredores ou de criaturas francamente incapazes, passando até mesmo a sustentá-los na fuga. Os convidados para a lavoura da luz, no entanto, engodados por si próprios, acordam para a verdade no momento oportuno e, atados às ruinosas consequências da própria leviandade, não encontram outra providência restauradora senão a de esperarem por outras reencarnações”.[1]

Hoje, agora, esse momento é a hora meus irmãos. A hora de vibrarmos na sintonia de Jesus. Desse modo teremos sempre à nossa volta as energias salutares e reconfortantes que nos fortalecem para essa abençoada romagem terrena. Que assim seja!!!!

Gratidão a todos!!!

Sérgio Araújo é voluntário no Centro Espírita Batuíra e no Grupo Espírita da Prece “Chico Xavier”.

Referência Bibliográfica

O Autor assume inteira responsabilidade pelo conteúdo dos textos de sua autoria.
Sua opinião não necessariamente expressa a visão do CENTRO ESPÍRITA BATUÍRA.
As desculpas nossas de cada dia
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4 ideias sobre “As desculpas nossas de cada dia

  • 12 de outubro de 2021 em 09:57
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    A busca pelo caminho do meio é sempre um enorme desafio, acredito que para acha-lo precisamos de muita atenção aos nossos pensamentos e atitudes, na coerência entre o que desejamos e as escolhas que fazemos para atingir o objetivo de sermos melhores.

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    • 13 de outubro de 2021 em 10:28
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      Querido Sergio, que bela reflexão! Até quando vamos empurrar com as desculpas descabidas a nossa evolução??? Me fez pensar que é chegada a hora, afinal somos os trabalhadores da última hora …queiramos ou não!! Gratidão!!

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      • 13 de outubro de 2021 em 22:50
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        Exato Euckaris. O Mestre nos fez um convite para O seguir. Até quando iremos protelar ou não aceitar de coração esse convite? Até quando iremos aceitar por conveniência? Um de muitos aprendizados que tive contigo foi esse: servir sempre ao Mestre, de coração. Gratidão minha amiga, minha mentora encarnada.

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    • 13 de outubro de 2021 em 22:52
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      Lucia cada momento é um grande aprendizado nessa romagem terrena pela qual passamos. Compreender que tudo, mas tudo mesmo está certo, até os fatos menos positivos que ocorrem conosco, as atitudes equivocadas que tomamos, nós dará a tão almejada felicidade, a tão almejada paz. Estamos na jornada. Gratidão pelos seus comentários.

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