Chico Xavier e o Sofrê
Por Priscila Batista
Abençoada é a humanidade por ter tido a oportunidade de receber Chico Xavier em seu berço neste momento da história onde é possível se ter tantos registros e fatos da sua vida, exemplos de conduta disponibilizados para tantas pessoas.
Dia 02 de abril comemoramos 113 anos do nascimento do nosso querido Chico, este ser humano incrível que nos ensinou muito e segue em nossas vidas através das obras psicoagrafadas por suas mãos benditas e seus exemplos admiráveis de amor, renúncia, resignação e bondade.
Diversas biografias tratam da vida de doação deste médium que, com mais de 450 milhões de obras publicadas em diversas línguas, deu voz à grandes e caridosas almas que atuaram em pról da humanidade levando luz e esclarecimento sobre a vida, neste e no outro plano, e suas relações.
Muitos são os fatos que destacam a vida e obra deste irmão, entre centenas de “causos” peço licença para reproduzir trecho da entrevista que Chico concedeu a Elias Barbosa e está reproduzida na obra No mundo de Chico Xavier:
“Em março de 1933, quase findo o prazo de minha esperança de achar trabalho na capital de Minas, acompanhei o Sr. José Álvaro Santos para a sua residência em Lagoa Santa, onde me despediria dele para o regresso a Pedro Leopoldo. O meu benfeitor partiu, realmente, para o Rio, enquanto me demorei na referida cidade, mais algumas horas aguardando condução para Vespasiano, de onde seguiria para minha terra, num comboio da Central do Brasil.
Enquanto aguardava, dois amigos me procuraram. Antes de tudo, perguntaram pelo meu protetor, verificando-lhe a ausência. Um deles me disse, então, que um emprego para mim, em Belo Horizonte, estava sendo obtido. Não só o emprego, mas também os recursos para que eu me instruísse convenientemente. Além disso, outras vantagens surgiriam beneficiando todo o meu grupo familiar. Lembrei-me de meu pai, contando comigo, e senti imensa alegria. Sim, iria trabalhar e depressa. Mas quando mostrei meu grande contentamento, o portador do comunicado me disse que havia condições. Para obter a colocação, eu deveria renunciar ao Espiritismo e dizer que o livro “Parnaso de Além-Túmulo” era meu mesmo e não dos Espíritos. Neguei-me a concordar. Expliquei de que modo os Espíritos haviam escrito o livro por minhas mãos. O proponente sorriu e me disse:
— Chico, você conhece um passarinho chamado sofrê? Disse que não, ao que ele acentuou:
— O sofrê é um pássaro que imita os outros. Você nasceu com a vocação desse passarinho entre os poetas. Não acredite em Espíritos. Esses poemas que você julga psicografar são seus, somente seus.
Muito triste e desencantado com o que ouvia, pensei em Emmanuel e como se eu ligasse uma tomada nos ouvidos para a voz dele, escutei-o, ao meu lado:
— Sim, volte a Pedro Leopoldo e procuremos trabalhar. Você não é um sofrê, mas precisa sofrer para aprender.
Assim ficou encerrada a experiência. Regressei ao armazém do Sr. José Felizardo Sobrinho, de onde, aliás, me afastei pouco tempo depois para colocarme no Ministério da Agricultura. Conforme afirmava Emmanuel, nunca nos faltou o amparo da Providência Divina e conto o fato porque naturalmente outros médiuns enfrentarão situações semelhantes e o que se passou comigo foi para mim abençoada lição.”
Chico Xavier passou por duras provas e tentações em sua última existência terrestre, não foi isento das Leis Divinas e se submeteu com resignação e fé aos espinhos do caminho, ele precisou fazer escolhas de sacrifício que foram cruciais em sua jornada.
Jesus nos alertou sobre o sacrifício quando tratou da porta estreita:
Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram. Quão pequena é a porta da vida! quão apertado o caminho que a ela conduz! e quão poucos a encontram! (Mateus, 7:13 e 14.)
No caso acima narrado, podemos dizer que Chico Xavier passou pela porta estreita no sentido de cumprimento com o dever assumido com a espiritualidade, sacrificando sua posição material no mundo.
Este é o convite do Mestre Jesus um convite ao cumprimento dos próprios deveres mesmo que para tal se faça necessário o sacrifício de nossos vícios e paixões negativas.
Os deveres, muitas vezes impostos pela vida são parte de um roteiro espiritual de aprendizado, muito bem planejado e programado antes da nossa encarnação, com a finalidade de nosso progresso.
Ao encarnarmos, muitas vezes nos propomos a resistir a certas investidas, a trilhar o rumo da evolução espiritual almejada, porém a porta larga da preguiça, da gula, do vício, do egoísmo e do orgulho acabam por nos atrair por demasiado, e deixamos os deveres de caridade, amor próprio, de responsabilidade com os compromissos assumidos para outro dia…
Neste caso relatado, Chico atua no bem com extrema humidade, honestidade, resignação e perseverança, mesmo diante do sofrimento material a que se submetia. A sua consciência tranquila pautada na verdade de sua palavra não poderia ser vendida em troca de conforto material.
Chico ainda percebeu a astúcia daqueles irmãos questionando sobre a presença de Emmanuel ao seu lado pois já sabiam que, Chico seria mais resistente diante da influência de seu mentor. Portanto, Chico estava ali sozinho em um momento de escolha, e escolheu a verdade – o caminho mais penoso e difícil, mas certamente aquele que refeltia a verdadeira vontade de seu coração bondoso.
Chico passou por esta prova e aceitou o sofrimento com resignação, a sua perseverança no bem e na verdade foi maior que as investidas e insistências daqueles que estavam vislumbrando apenas os ganhos materiais.
Será que se ele tivesse sucumbido nesta prova, teria conquistado tamanho feito perante a humanidade?
Muitas vezes nos vemos nestes momentos de escolhas entre o caminho certo mais penoso e o caminho da chamada porta larga, precisamos nos recordar das palavras do Mestre e sermos fiéis aos princípios cristãos, ouvirmos nosso coração e nossa consciência, pois se se hoje temos dores e soubermos passar por elas buscando o aprendizado e a reflexão, estes desafios poderão nos levar a grandes e maiores conquistas, e principalmente a conquista da paz interior, fruto do trabalho realizado e da consciência tranquila.
Apesar de todo o sofrimento vivido por nosso querido Chico Xavier, floresceu através de suas mão sofredoras, as mais lindas obras espíritas já conhecidas, e tudo isso porque seguiu sua estrada de redenção, recebendo com resignação o conselho de Emmanuel para que sofresse e trabalhasse pois era preciso aprender, isto é, evoluir.
Fontes:
- No mundo de Chico Xavier, Entrevistas Chico Xavier e Elias Barbosa, Editora Ide;
- Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, no capítulo V;
- http://www.mundoespirita.com.br/?materia=a-porta-estreita
- Imagens:
Priscila Batista é voluntária na Casa dos Essênios da União Fraternal, em Sorocaba.
Que possamos seguir a lição de Chico e procurarmos trabalhar no bem a cada dia!
Excelente reflexão Priscila.
Chico é um grande exemplo a ser seguido, considerando que todos temos um “Emmanuel” orientando e vibrando por nós. O problema é que a maioria das vezes nós não damos atenção ele. Infelizmente!
Gratidão querida 🌹
Muito bela, Priscila, a sua referência ao extraordinário exemplo que o “aniversariante”, querido Chico Xavier, representa.Ele disse e,muito mais que isso, ele fez.Seu legado? Abençoado registro histórico de amor e luz.
Obrigado, Priscila.
Obrigada amiga! Que ótima ideia homenagear o.nosso amado Chico,
A ESTRELA MAIOR:
Uma saudade lá dentro de mim
Invade o meu coração
Naquele tempo que eu pude viver
Me traz uma grande emoção
Ele foi a bondade e o amor
A vivência da paz e o perdão
Ensinava com muito saber
O caminho da renovação
A serviço do consolador
Um fiel servidor de Jesus
A verdade ao mundo deixou
Um exemplo, um rastro de luz.
Chico, Francisco
A estrela maior
O sol que na Terra nasceu
Aos olhos de Deus
Com a mão do Senhor
A grande mensagem escreveu
(Sergio Santos)
Muito boa sua explanação filha. Lembrar esse ser tão iluminado Francisco Cândido Xavier, comentando as maravilhosas obras psicografadas. Pra mim foi como se eu estivesse ouvindo ele contar o sofrê. Parabéns . Ilma.
Olá Pri. Você foi muito feliz na escolha desse tema magnífico. Falar sobre o Chico e trazer uma chuva de pétalas de luz para nossa vida. Que possamos aplicar essa conduta em nosso dia, termos a coragem de agir assim. Como a Claudia disse temos um “Emmanuel” nos orientando mas, diferente do Chico, as vezes não damos atenção ao que ele nos diz. Daí os desenganos ocorrem em nossa jornada, como ocorreu com o próprio Chico em uma ou outra oportunidade, na qual Emmanuel deixou um valiozo aprendizado para nosso Chico. Gratidão pelo tema maravilhoso!!!!!