Onde nos leva o medo??
Por Lúcia Pecora
Hoje vamos parar por momento para refletir sobre o medo, sentimento válido, importante ligado ao nosso instinto de preservação que ao entrar em ação ativado por ameaças reais ou não provoca a liberação de substâncias em nosso organismo que nos capacitam a pensar, agir e atuar rapidamente o que com certeza pode nos favorecer e aos que estão em nosso entorno. Ferramenta poderosa que existe em todos nós e quando saudável e em equilíbrio é um excelente balizador gerando a tão necessária prudência.
O problema ocorre quando este sentimento, assim como tantos outros que existem em nós entram em desequilíbrio nos paralisando, atando nossas vidas, nossas realizações e impedindo nosso desenvolvimento como seres plenos e capazes. Existem medos que permanecem ocultos de nós, disfarçados de outros sentimentos ou por um falso senso de dever pelo simples fato de nos negarmos a entrar em contato com eles e por isso não somos capazes de confronta-los e nos libertarmos das amarras que tanto impedem nossas conquistas. Tudo isso faz parte de um processo de crescimento e aprendizado porque em algum momento nos obrigará a buscar entendimento e autorresponsabilidade.
Esse medo inconsciente permanece em nossa psique devido a mecanismos que desenvolvemos na infância por defesa, necessidade de aceitação e obviamente imaturidade, o processo possui um propósito pois faz parte do amadurecimento de cada ser e do nosso projeto reencarnatório. Pode também estar ligado ao espírito que os carrega reencarnação após reencarnação até que consiga depura-los. Esses estados fóbicos são os mais variados e derivam de comportamentos e atividades lesivas, ações equivocadas ocultas que se encontram inscritas na consciência profunda com necessidade de reparação e nesses casos ressurgem na atual reencarnação quando ocorrem fatores que os despertam.
Assim passam a trabalhar o ser real levando-o da insegurança ao medo perturbador, portanto onde há um medo existe algo a ser observado e trabalhado, ou seja uma imagem, um conceito incorreto, uma cobrança excessiva, falta de compreensão e autoamor.
Sua atuação como ferramenta fantástica de transformação e autocura é de grande importância desde que não nos neguemos a ver o que esse medo tem para nos mostrar. Independente da origem do medo, nesta ou em qualquer outra existência o ponto importante é a reflexão. Meu medo é real? O que estou temendo oferece um risco a minha integridade física e psíquica ou está baseado em uma situação hipotética, na minha necessidade de controle de exigir garantias, de querer ser aceita e perfeita, medo de falhar de descobrir que não sou o que gostaria de ser ou pior de que os outros tenham certeza disso. Medo de perder o amor e admiração dos outros por ser eu mesma…essa é ainda a visão infantil e imatura diante da vida, mas extremamente presente no comportamento de tantos adultos sufocados pelo medo, caminhando apavorados, sem coragem de se conhecer e buscar seus propósitos vivendo de aparências, tentando preencher expectativas alheias, muitas vezes ignorando as próprias.
Por tudo isso é tão importante pararmos para pensar o que fazemos com o medo? Eu o observo, encaro e tento fazer algo a respeito, aprendo algo com ele, percebo os sinais ou paraliso, me anestesio com outras distrações? Muitos vícios, excessos de todos os tipos e a distorção de imagem em busca de uma perfeição idealizada, o desespero em parecer sem se importar em ser em geral encobrem o medo.
Vivemos em uma sociedade medrosa, violenta que viciosamente alimenta o ciclo de medo pútrido que invade nossas vidas com a nossa permissão, através das telas, notícias, filmes, conversas, pensamentos e atitudes criando uma psicosfera enfermiça que favorece grandemente a desorganização psíquica dos indivíduos, causando uma predisposição a somatização e doenças de todos os tipos. E qual seria o caminho para começar a lidar com essa questão? O primeiro passo é assumi-los, busca-los pois onde ocorre uma paralização, uma trava provavelmente existe o medo, e pode ser das formas mais variadas, da solidão, da morte, das doenças, da violência, do sofrimento, da escassez, daquilo que é desconhecido, todos são válidos, possíveis e não devem ser ignorados, mas vistos e acolhidos para que possam ser ressignificados.
É exatamente quando me permito olhar para meus medos, minhas fragilidades que tenho as maiores oportunidades de buscar Deus e me fortalecer.
O Evangelho nos traz vários exemplos e ensinamentos para que possamos refletir a esse respeito como na parábola dos talentos* onde o servo tinha a convicção de que deveria enterrar o talento ao invés de multiplica-lo acreditando que assim estaria protegendo o que seu senhor havia deixado com ele e ao invés disso se submeteu a uma postura de acomodação e menor esforço. Não acrescentou nada, não cresceu, estacionou e deixou o tempo passar retido no medo e na falsa prudência.
Outro evento que ilustra esse tema é quando Pedro é convidado por Jesus a caminhar sobre as águas e apesar do convite e da presença do Mestre seria um andar incomum, sem referências, sem garantias e Pedro afundou nas águas do temor, para poder aprender e se fortalecer. Quando temos a compreensão dos ensinamentos de Jesus que a doutrina tanto esclarece, percebemos que nunca estaremos desamparados, que nosso erro de hoje é mola propulsora para a evolução, que somos fonte geradora de todo o amor que necessitamos, que sem nossa autoaceitação a aceitação dos outros não muda nada, não nos completa. Sabemos que todos sentem medo e o que importa é o que faremos diante dele com o pleno exercício de nosso livre arbítrio.
Para finalizar minhas colocações gostaria de lembrar mais uma vez de Pedro, mencionado no livro Boa Nova num texto de Humberto de Campos psicografado por Chico Xavier onde é descrito que Pedro se acreditava forte, corajoso em sua fé e de certa forma melhor que seus companheiros seguidores do Cristo e em um de seus diálogos com Jesus e exaltando suas próprias qualidades ele fica indignado quando Jesus fala que para onde ele iria e pelo que passaria Pedro não estava preparado e que Pedro o negaria três vezes antes que o galo cantasse. Pedro fica indignado e acreditava isso jamais aconteceria, quando a prisão de Jesus ocorre e o desfecho não esperado por Pedro também as três negações se tornam realidade, pois no momento em que ele é reconhecido pelas pessoas como seguidor de Jesus o medo fala mais alto fazendo com que ele fosse contra tudo aquilo que acreditava e sentia. Nesse episódio tão doloroso Pedro se arrepende muito, percebe melhor suas falhas e seu tamanho e com isso galga mais um degrau precioso na sua transformação, nos dando um exemplo humano, falho e maravilhoso.
Segundo o livro, no auge de sua angustia e arrependimento Pedro vê o Mestre olhando para ele amorosamente com os braços abertos e se recorda da fala de Jesus que disse: “Vais aprender ainda hoje que o homem no mundo é mais frágil do que perverso”. Portanto acredito que o caminho é buscar as fragilidades que tanto nos custam reconhecer em nós e que tanto julgamos em nossos irmãos, para isso podemos recorrer a prece a meditação e a observação do próprio comportamento todos os dias, como tão bem exemplificou Santo Agostinho. *Mateus 25:14 a 30
Bibliografia: Wanderley Oliveira por Ermance Dufaux – Emoções que Curam
Chico Xavier por Humberto de Campos – Boa Nova
Divaldo Franco por Joana de Angelis – O Ser Consciente
Lúcia Pecora é voluntária na A.B.C. Espírita Batuíra e na Casa dos Essênios em Sorocaba.
Parabéns pelo tema, essencial aos dias de hoje.
Obrigada pela reflexão.
Grande abraço!
Excelente reflexão!! Parabéns Lucia!!
Lucia excelente. Muito obrigado por suas reflexões. O medo é de fato um obstáculo à nossa evolução, mas presente e atuante em nosso momento evolutivo. Pedro que esteve 3 anos com Jesus teve medo. Até o Chico teve seus medos e anseios. O que importa é o aprendizado que fica para nós. Falando por mim, o medo já me freou na vida, me levando a caminhos equivocados. Grande foi o aprendizado e a compreensão que vem agora com tudo o que chega até meu conhecimento, é muito grande. Seu texto veio complementar com muita luz todos os conhecimentos que tenho recebido. Gratidão Lúcia.