Ouvi essa frase de uma aluna que entrou na minha sala com os olhos repletos de dor e lágrimas. Ela continuou: “Eu sei que é errado, que não adianta, mas não consegui controlar, dói muito, desculpe, professora…”, mostrando seu braço todo arranhado.

Tudo o que pude fazer naquele momento foi abraçá-la, dizer que eu não a julgo, deixá-la chorar até se acalmar e depois conversar para tentar entender e acolher (ela está fazendo tratamento para depressão).

Não pretendo alarmar ninguém, mas sim alertar. O número de adolescentes com depressão ou outros transtornos que afetam a saúde mental aumentou muito, após a pandemia. Muitos trazem de vidas anteriores esses sentimentos de tristeza e melancolia.

Esta encarnação pode ser um desafio muito grande para alguns que necessitam de nosso apoio e equilíbrio, auxiliando sempre com amor. O apelo para não ser julgada me mostrou que ela já tinha passado por isso.

O cuidado ao falar é um hábito que deve ser cultivado. Falar com amor, nunca com recriminação. Educar não é impor nossas crenças sobre o certo ou errado; é levá-lo a refletir sobre suas atitudes e consequências. O espiritismo nos ajuda a entender os mecanismos da depressão que, muitas vezes, pode estar associada a uma mediunidade não compreendida.

Não é uma “novidade”. Sempre esteve entre nós. Mesmo entre os apóstolos que tiveram a ventura de conviver intimamente com Jesus.

(…)Pedro, como narram as Escrituras, negou que conhecesse a pessoa do Mestre, quando este era julgado. (…) o sentimento de culpa em face do erro praticado, negando que conhecesse o Amigo. Mateus, narrando o episódio, comenta a atitude de Pedro: e, saindo dali, chorou amargamente.  Isolar-se e chorar amargamente, comumente, é típico de depressivo. (CLARO, Izaias).

A reforma íntima tem um papel primordial no combate a depressão pois nos auxilia a lidar com nossas sombras, aceitando nossas limitações, eliminado culpas e abrindo espaço para o otimismo, a valorização de si mesmo, a conquista da autoestima e da saúde mental e emocional.

Joanna de Ângelis, em sua série psicológica, nos alerta que ao mesmo tempo em que trabalhamos a melancolia, a insegurança, a ansiedade e vamos nos libertando, precisamos alimentar hábitos saudáveis de boas leituras, oração, de sintonia com o Divino Psiquismo, adotar atos de amor a si e ao próximo, desenvolver bons relacionamentos e conversação edificante (Livro: Triunfo pessoal).

Ainda segundo ela alguns estados que levam à depressão podem decorrer da incapacidade de resolver conflitos existenciais; o indivíduo esconde-se no medo que o leva ao mutismo, ao afastamento do convívio social e familiar, tentando poupar-se de qualquer tipo de sofrimento. Esse mecanismo de fuga faz com que o indivíduo enfrente exatamente o que gostaria de evitar (Livro; Conflitos existenciais).

Quando não se consegue se libertar da carga emocional excessiva, olhando para ela, acolhendo e buscando soluções, a consciência entra no modo de sobrevivência e deleta (pelo tempo que conseguir) as informações buscando rotas de fuga para não sentir (drogas, sexo, álcool, excesso de todos os tipos).

Cultivar o otimismo, a confiança irrestrita em Deus e na vida é um importante remédio no combate a esses estados de desequilíbrio, no entanto, um profissional da saúde sempre deve ser consultado. Só ele poderá dizer se há necessidade ou não de medicação, além da psicoterapia. É um processo longo e lento, mas pode trazer muito alívio a quem está passando por isso.

Aos pais que estão sentindo na pele o que é ver um filho sofrendo assim e nada poder fazer quero lembrar que o importante é não desanimar. É hora de cultivar a fé. A alegria precisa ser cultivada para que possamos ajudar nossos filhos. A tristeza deles já é difícil de suportar, mas se ficamos assim também aumentamos seu sofrimento.

Não julgar, acolher, amar, orar por eles e pelos familiares, mentalizar saúde e paz…tudo isso ajuda e muito a não ampliar o sofrimento dos nossos irmãos nessa dura prova. Espero que, ao terminar de ler esses breves apontamentos, o coração de quem leu se enterneça ao pensar nas pessoas que estão passando por isso, em seus familiares e amigos, com um olhar de compreensão, como o Mestre nos olhava. Muita paz e muita luz a todos!

Analu