Tolerância construtiva
por Marcio Conegero
Por que apresentamos dificuldades nas nossas convivências?
Como lidar com esses conflitos?
O primeiro pensamento que devemos ter diante dessas perguntas é que estamos aqui no Planeta Terra para evoluir. E essas intercorrências, se assim podemos dizer, fazem parte do nosso aprendizado, do nosso crescimento espiritual. Conviver é condição natural de todos, para que possamos evoluir e compreender as Leis Divinas que regem o aperfeiçoamento do Espírito. Aprender a conviver é lição de espiritualização humana.
No livro Alma e Coração, Emmanuel nos ensina que além da nossa razão e da nossa inteligência, precisamos desenvolver nossos sentimentos. Ele nos diz que o desenvolvimento do sentimento ocupa extenso período da caminhada evolutiva humana. Nós gastamos encarnações e mais encarnações para que consigamos nos desenvolver na área dos sentimentos, das relações, das emoções, das afetividades.
Com isso percebemos que o relacionamento não é algo tão simples. Conviver fraternalmente deve ser a essência de nossa busca.
Todo tipo de relacionamento envolve convivência, comunicação e atitudes que devem e precisam ser recíprocas. Relacionar-se corresponde a uma doação simultânea e contínua entre dois ou mais seres humanos.
Emmanuel diz que só evoluímos em conjunto, no coletivo. Se fossemos ermitões, sozinhos no mundo, sem ninguém, nós não conseguiríamos passar pelas provações, pelas expiações que são necessárias para o nosso aprimoramento espiritual.
Humberto de Campos nos ensina que os laços de afetos são caminhos misteriosos que nos levam a Deus.
“ Somente o amor dispõe de recursos valiosos para que possamos enfrentar as situações penosas que se avolumam em nosso caminho. Somente o amor nos oferece os recursos poderosos da paciência, coragem, perseverança, perdão, compreensão e confiança em Deus.”
Por que é tão difícil conviver? Por causa das nossas muitas imperfeições morais. E o que são imperfeições morais? Nada mais são do que os vícios que carregamos em nós. E qual desses vícios é o mais radical, o mais enraizado em nós??
Temos a resposta para essa pergunta no Capítulo X – Bem-aventurados os misericordiosos – Evangelho Segundo o Espiritismo, mais precisamente nos itens 9 e 10, cujo título é: O argueiro e a trave no olho.
“Um dos caprichos da humanidade é ver cada qual o mal alheio antes do próprio”.
“É o orgulho, incontestavelmente, o que leva o homem a disfarçar os seus próprios defeitos, tanto morais quanto os físicos. Esse capricho é essencialmente contrário à caridade, pois a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. ”
“ Se o orgulho é a fonte de todos os vícios, é também a negação de muitas virtudes.
Infelizmente, o encontramos no fundo de quase todas as nossas ações. Foi por isso que Jesus se empenhou em combatê-lo, como o principal obstáculo ao progresso. ”
Segundo Allan Kardec, o orgulho é o pai de todos os vícios.
Os Benfeitores Espirituais, na questão 913 de O Livro dos Espíritos, também nos esclarecem a respeito dos malefícios de outro vício também muito presente em nós, que é o egoísmo.
Dizem eles: “… Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve eliminar do seu coração todo sentimento de egoísmo porque é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades.”
O egoísmo impede o perdão, a paciência e a aceitação, que nos leva a gerar a intolerância.
A necessidade de respeitar o outro é uma das lições mais urgentes a se conquistar na vitória sobre o egoísmo. E não existe respeito sem tolerância construtiva.
A tolerância construtiva é aquela que oferece condições aos nossos campos íntimo e exterior para que haja o respeito, e uma convivência pacífica, mesmo com aqueles irmãos que pensem ou ajam diferente de nós.
A tolerância não implica resignação passiva, pelo contrário, a tolerância é uma atitude construtiva das condições para os bons relacionamentos, os quais, por sua vez, dissolvem as espessas nuvens do mal querer. As divergências, as diferentes ideias e opiniões fazem parte da convivência sem que, necessariamente, determinem desacordo.
Toleremos sempre, sendo indulgentes com as faltas alheias.
Toleremos incondicionalmente, usando o perdão que estimula a harmonia e o entendimento.
Toleremos com desprendimento, guardando a paciência com a melhoria do outro.
Toleremos com fé, entregando ao tempo a solução das adversidades.
Toleremos com compreensão, entendendo que cada pessoa tem seu patamar evolutivo.
Toleremos com oração, evitando os círculos mentais de baixo teor moral.
Toleremos com trabalho, ocupando a mente com ideias nobres que eliminam o espaço de disputas inferiores.
Toleremos com aprendizado, buscando as lições sublimes do amor aplicado e meditando nas nossas necessidades.
Toleremos com discrição, abstendo-nos de nomear pejorativamente pessoas e grupos.
Toleremos com meditação, controlando o surgimento dos sentimentos impetuosos que elaboram os raciocínios de desforra.
Tolerando, preparamos intimamente os recursos para o amor.
Outro auxílio importantíssimo para termos equilíbrio nas dificuldades de convivência, é a prática da oração. A prece nos acalma. Precisamos pedir ajuda a Deus, auxílio da equipe espiritual para que acalmem nosso coração e nos dê força para enfrentar as dificuldades.
Não existe um manual, uma receita de como superar essas dificuldades. Cada caso é único. Cada ser é único. Mas o perdão, o amor e a oração devem estar presentes em todos os casos.
Amando, seremos sempre um instrumento de Deus na mão das circunstâncias, que no momento justo, nos chamarão aos melhores meios de efetivar a conciliação, o entendimento e o serviço de união.
Cada um de nós dá aquilo que pode e aquilo que possui nas construções espirituais. Cada um de nós, com tantas imperfeições, deve fazer o melhor que pode em favor da obra do Senhor.
Marcio Conegero é voluntário no Grupo Espírita da Prece “Chico Xavier”.
O Autor assume inteira responsabilidade pelo conteúdo dos textos de sua autoria.
Sua opinião não necessariamente expressa a visão do CENTRO ESPÍRITA BATUÍRA.
Otima reflexão…parabéns!!