A nossa Responsabilidade com a nossa Irresponsabilidade
Por Sérgio Araujo
“O indivíduo que não aceita a responsabilidade por seus atos e, constantemente, cria álibis e recorre a dissimulações, culpando os outros, é denominado imaturo” (As Dores da Alma, Francisco do Espírito Santo Neto pelo espírito Hammed)
O título acima pode parecer meio óbvio, um axioma que se torna realidade para o qual muitas vezes não nos damos conta.
Assumimos uma série de responsabilidades desde a mais tenra idade. Nossos pais nos passam conceitos e determinam tarefas simples como arrumar a cama ao levantar, escovar os dentes, manter os brinquedos organizados. Muitas vezes cumprimos de bom grado, outras somos forçados a concluir tal tarefa, fazendo-a até mesmo por obrigação ou por receio de alguma represália. Faz parte da formação de nosso caráter.
Quando por algum motivo não as fazemos criamos álibis como nos diz Hammed. Não arrumei a cama pois estava atrasado, ia perder a hora da escola. E assim vamos seguindo em nossa evolução e desenvolvimento.
Conforme crescemos assumimos novas responsabilidades. Estudo, a formação para seguir uma profissão, trabalho, família e uma série de outras. Conforme despertam nossas memórias imortais vamos nos envolvendo em situações na vida que requerem uma atitude de nossa parte. Se não as fazemos por algum motivo, recorremos aos álibis.
A impressão que aparenta é que acostumamos a não cumprir o que nos compete e criamos subterfúgios para justificar nossos atos equivocados ou a falta de uma decisão, de um posicionamento perante um fato.
Aqui surgem comportamentos perniciosos como:
- a procrastinação, que é quando adiamos algo que deve ser realizado por nós e colocamos outras situações na frente, que podem até ser menos importantes que a que deixamos de realizar;
- e a vitimização que faz com que responsabilizemos outras pessoas ou situações por algo que não realizamos.
Avaliando rapidamente nossa existência atual verificamos o quanto fomos irresponsáveis em todos os meios em que convivemos e o quanto criamos desculpas e justificativas para agir desse modo.
E a pior irresponsabilidade que podemos ter é a que se refere à nossa evolução moral, à nossa busca pelo caminho do bem e prática do “Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo”. Reencarnamos para crescer, evoluir e no caminho, auxiliar nosso próximo. Quantas vezes não adiamos isso pelo apego às posses materiais, pelos poderes temporais, peça exaltação do ego e do orgulho?
Quando não assumimos nossas responsabilidades pelo que nos compete e culpamos algo que é externo a nós, criamos o que chamamos de fatalidade, como que “justificando” nossa falta.
Qual é então o caminho a seguir?
Respondo essa pergunta com a questão 851 de O Livro dos Espíritos: “Haverá fatalidade nos acontecimentos, conforme ao sentido que se dá a esse vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são pré-determinados? E, nesse caso, que vem a ser do livre arbítrio?
A resposta que Allan Kardec recebeu dos Espíritos é bem ampla, mas vamos nos ater ao seu início: “A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si mesmo uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que toca as provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resistir. […]
Nós criamos nossos destinos, nossa vida com nossos pensamentos, emoções e escolhas. Nós criamos, não existem culpados ou fatalidades, mas sim o fruto de quem nós somos de fato. “É um conceito difícil de assimilar e entender. Pois é melhor continuarmos a acreditar que somos vítimas indefesas de forças que não estão sob nosso controle”.(Hammed)
A questão aqui é até quando iremos postergar a aceitação de quem somos de verdade, a aceitação da nossa realidade, do nosso eu interno com sombra e luz? Até quando seremos irresponsáveis conosco mesmo, com o próximo, com as dádivas que o Pai nos concede?
“Ser responsável implica ter a determinação para responder pelas consequências das atitudes adotadas.
Ser responsável é assumir as experiências pessoais para atingir uma real compreensão dos acertos e dos desenganos.
Ser responsável é decidir por si mesmo para onde ir e descobrir a razão do próprio querer”. (Hammed)
Ser responsável pelo seu destino, aceitar os compromissos da vida de bom grado, aceitar-se a si mesmo em sua essência e respeitar os limites do próximo, lembrando que todos tem o livre arbítrio e cada um está no seu tempo. Quanto mais nos amamos e amamos o próximo maior é esse respeito.
Eis a receita: Jesus. “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão através dos meus ensinamentos”.
Jesus nos trouxe a Boa Nova, a mensagem do Amor Divino. Nos deixou exemplos de caridade, de amor incondicional, um verdadeiro roteiro para sermos homens de bem e assumirmos nossa responsabilidade perante a obra Divina. Qualquer mudança em nossos rumos virá justamente da aceitação e compreensão desse roteiro de amor.
Contudo não é uma transformação de uma hora para outra. “Requer uma série de escolhas ao longo de inumeráveis experiências e acontecimentos (Hammed)”, nas sucessivas reencarnações que nos são concedidas.
O livre arbítrio nos é permitido justamente para que possamos galgar os degraus da nossa escalada evolutiva. Entre equívocos e acertos, aprendemos, evoluímos e assim vamos “despertando” nossa verdadeira realidade existencial: somos Espíritos, hora encarnados experienciando na matéria para validar todas as conquistas morais obtidas até aqui.
À medida que essa compreensão se torna mais presente, progressivamente, a irresponsabilidade vai deixando de fazer parte de nós. Assim, progredimos, colaborando com Jesus na transformação de nosso lindo planeta.
Sérgio Araujo é voluntário na A.B. C. Espírita Batuíra e no Grupo Espírita da Prece Chico Xavier em Sorocaba, SP.
Que nossas escolhas sejam cada vez mais guiadas por nossa luz interna e pelo firme propósito de sermos cada dia melhores. Obrigada Sergio, ótima reflexão.
Responsabilidade, fator essencial para a nossa evolução! Somos responsáveis por tudo que criamos e pensamos … e corresponsáveis pelo que induzidos os outros a criar e pensar! Ótima reflexão Sergio! Parabéns! Gratidão amigo!!
Sergio, obrigado por compartilhar esta reflexão.
A grande maioria dos seres humanos tem a “vitimização” como inata, onde a culpa sempre é dos outros, nunca nossa… e muitos de nós, “Espiritas para a Sociedade”, quando nos deparamos com situações fora de nosso controle (ou melhor, fora de nosso conhecimento), atribuímos a culpa ao “Karma”, pois é mais simples de justificar e aceitar.
Vale muito à pena ler (ou reler) “As Dores da Alma” e também “Os prazeres da Alma” por Hammed, que com grande doçura, mas objetivamente, nos mostra o quanto somos importantes no processo de entendimento e compreensão moral, para diminuirmos nossos sofrimentos e aflições.
Obrigado mais uma vez pelas palavras!!
Grande Abraço 🙂
Muito bom, Sergio!
Todos nós precisamos ouvir palavras e orientações que nos auxiliem permanecer fieis aos nossos projetos de evolução espiritual, e qdo colocadas assim, com a leveza que lhe é peculiar, nos sentimos estimulados um tanto mais.
Obrigado.
Forte Abraço.
muito obrigada pela bela reflexão. Um grande abraço